top of page
Foto do escritorGustavo Santos

Tatuador Flávio Souza renova mais um ciclo com novo estúdio em casarão de Jaguariúna

Flávio Souza renova as energias do seu trabalho em um dos prédios históricos de Jaguariúna - Fotos: O Jaguar

Um novo ciclo se inicia na vida profissional de Flávio Luiz de Souza. Aos 36 anos, o tatuador mais antigo em atividade em Jaguariúna realinhou seus objetivos, montou um novo espaço e decidiu que era hora de atuar em sintonia direta com seus clientes, sem aquele frenesi dos estúdios das quais trabalhou ao longo dos anos.

No andar superior de um dos casarões mais antigos do município (a antiga Casa Syria -1913), na esquina das ruas Alfredo Engler e Coronel Amâncio Bueno, Flávio se reconectou literalmente com o passado, e levou para aquela atmosfera o talento de quem está há 18 anos aprimorando seus traços geométrico e o pontilhismo no corpo das pessoas.

“Para fazer uma tattoo, eu vejo como essencial saber captar em qual frequência o cliente está e tornar aquele momento especial. E trabalhando sozinho consigo entrar nessa sintonia com o cliente sem interrupções, sem aquelas interferências que existem em um grande estúdio”, acredita Flávio.
Geometria sagrada e tribal: assim define o estilo do tatuador com 18 anos de profissão

Com uma carreira sem interrupções desde os 17 anos de idade – quando começou a fazer seus primeiros traços -, atualmente o profissional comemora sua melhor fase, e avalia que seu trabalho cada vez mais autoral se consolida como diferencial, em um mercado que ele considera como bastante saturado. “Depois do quarto ano tatuando, um amigo me apresentou o trabalho de um artista chamado Daniel di Mattia (belga) e fiquei impressionado com a geometria, os tribais e o pontilhismo. Foi uma primeira virada de chave na minha carreira, e resolvi me especializar nesse tipo de tatuagem”, recorda o tatuador, que encontrou um nicho para emplacar seu estilo de arte em Jaguariúna.

Flávio é de uma época em que, para ter acesso conteúdos sobre tatuagem, o jeito era dar um pulo nas convenções do gênero ou na galeria do rock, na capital paulista, onde as tradicionais revistas com os desenhos eram a inspiração para os novos tatuadores dos anos 2000.

“Foi dessa forma que começamos a mudar o cenário da tattoo por aqui. Antes era tudo na base da cópia, não tinha um trabalho realmente autoral. A gente fazia a mesma tatuagem umas 10 vezes. Mas se não fossem as cópias, não teríamos um trabalho com nossa própria assinatura”, avalia.

CARREIRA DECOLA, O RECONHECIMENTO APARECE


Era 2005, o então adolescente Flávio foi convidado a ser recepcionista em um estúdio de tatuagem que abria as portas em Jaguariúna. Um amigo havia se especializado em aplicação de piercing e chamou um tatuador de São Paulo, chamado Marcos. Foi ele quem iniciou Flávio na profissão, e depois de um ano o jaguariunense já fazia seus primeiros riscos com tinta.


De lá, Flávio trabalhou rapidamente no estúdio de outro tatuador, chamado Celso, e na sequência abriu seu próprio espaço, com mais dois profissionais. A Tattoo Bros, na rua Julio Frank, durou quase dois anos, e nesse período também revolucionou o cenário na cidade. Mas a parceria não deu certo, as dívidas se acumularam e o negócio fechou.

“Fique durante cinco anos trabalhando em um cômodo da minha casa. Foi um período de recuperação financeira e também de muito aprendizado. Em paralelo ao atendimento em Jaguariúna, trabalhei um ano em um estúdio em São Caetano do Sul (Good Luck Tattoo Studio), especializado em tribal. E de lá, em 20213, no Tattoo Ink, em São Paulo. Foi nesse período que trouxe muita bagagem para Jaguariúna. Afinal, a capital respira tatuagem”.


Em 2015, Flávio sentiu que era hora de recomeçar em um estúdio próprio e novamente investiu suas forças no Ohana Tatuaria. Foi um período duradouro de nove anos, ao lado de mais três tatuadores e da esposa, que também atendia como terapeuta em um dos cômodos da espaçosa residência que ocupavam no bairro Mauá. Um ano antes, em 2014, no Rio de Janeiro, Flávio foi considerado o segundo melhor profissional do País, durante a Tattoo Week – a maior convenção de tatuagem do Brasil. “Tatuei uma mandala na perna de um carioca que conheci na convenção e com esse desenho fiquei em segundo lugar. Aquele título fez crescer uma vontade dentro de mim, por que meu nome estava entre os melhores do Brasil”, conta. No ano seguinte, ele alcançou o primeiro lugar na mesma Tattoo Week, e então teve novamente a certeza de que seu trabalho autoral estava consagrado pelos melhores jurados da profissão. Tanto que o reconhecimento o colocou, desde então, na banca de avaliação de diversos concursos brasileiros.


UM ANO MUITO DIFÍCIL (E TRANSFORMADOR) A paixão pelo desenho começou ainda na infância, e muito estimulada pela mãe, Maria do Carmo Argemiro. Flávio mostra uma de suas obras feita quando tinha seus sete anos, e garante que só está conservada por que a mãe fazia questão em guardar tudo o que produzia - principalmente as obras que produzia nas aulas de artes realizadas no Centro Cultural.

“Minha mãe sempre me apoiou e nunca se opôs a nada, tampouco quando eu comecei a tatuar”. Maria do Carmo faleceu em junho de 2023, ao 66 anos. Enfermeira aposentada e sempre preocupada com a própria saúde, teve uma complicação por conta de uma disfunção cardíaca e não resistiu. Flávio iniciava uma tatuagem quando sua irmã Tatiana o avisou.

Em dezembro, o pai Roberto, então com 66 anos, também faleceu. Separados durante 24 anos, a conexão de Maria do Carmo e Roberto era tão forte que suas partidas no mesmo ano foi algo como “obra do destino”, avalia Flávio. “Os dois nasceram no mesmo ano, ela em maio e ele em outubro. Nasceram e morreram no mesmo ano. Acredito que mesmo separados sempre se amaram. Foi um ano devastador para mim”.


Primeiros desenhos de Flávio: sinais de um futuro nas artes

Depois da morte dos pais, Flávio reavaliou tudo aquilo que fazia sentido para ele naquele momento, e também o que precisava mudar para encontrar novos sentidos na profissão. E, na sua concepção, permanecer com o ritmo de um estúdio já não era ideal de trabalho que ele almejava. “No fundo, o estúdio fazia para os outros e não para mim”. Sendo assim, vendeu parte do negócio para os parceiros de trabalho e então saiu em busca de um novo espaço.

O ESPORTE E O PRESENTE As duas filhas, de 8 e 5 anos veem no pai um cara diferente. Não só pelas incontáveis tatuagens pelo corpo, comenta, mas também por que ele tenta as inspirar com exemplos de superação, principalmente através do esporte. Pedala centenas de quilômetros, corre outras dezenas e assim vai retomando um estilo de vida que há pouco mais de cinco anos era inimaginável.


“Quando pedalo entro no meu universo, e eu comigo mesmo fico resolvendo minhas questões. Nas longas jornadas (recentemente cumpriu o trecho Jaguariúna-Aparecida do Norte) é a cabeça quem leva o corpo, e faço isso para fortalecer a mente. O medo é o que estagna a nossa vida e não deixa ela andar”. Se o exercício físico reordena os pensamentos, os traços geométricos coloca Flávio no presente, no agora, e também controla a ansiedade. “Tatuar me traz uma reflexão da minha vida, do que eu tenho e o que me faz dar valor”. Além do pé direito alto e das janelas centenárias que contribuem para deixar o novo estúdio arejado, Flávio sente que a mudança também oxigenou seu trabalho. “O retorno dos clientes está sendo ótimo. Realmente foi um novo ciclo que se iniciou” SERVIÇO Endereço: Coronel Amâncio Bueno, 232, Sala 4, Centro - Jaguariúna (SP) Telefone: (19) 98212-2684 Instagram: @flaviosouzageometry



371 visualizações0 comentário

Comments


(19)991994219.jpg
Design sem nome.jpg
(19) 98602-1824.jpg
bottom of page