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Foto do escritorGustavo Santos

Projeto se dedica a preservar o ambiente e recuperar vidas em Jaguariúna

Recuperar vidas e reciclar atitudes. A junção desses dois propósitos uniu homens que, de um lado, buscam acolher e orientar aqueles que estão no vício das drogas. De outro, oferecer a oportunidade desses mesmos homens de trabalharem em um projeto de sustentabilidade.


Há alguns anos, Hilário Argemiro, presidente da OSCIP Trilhos do Jequitibá, e Edemir Bonfim, pastor responsável pela Associação Carisma, ambos de Jaguariúna, seguem no objetivo de transformar vidas e restos de alimentos em fontes de novas possibilidades.


Os resultados dessa parceria são observados nas dezenas de sacos de 20 quilos de adubo orgânico, enfileirados em um dos galpões da Carisma, que fica em uma grande área na divisa entre Jaguariúna e Santo Antônio de Posse. Adubo que tem sido produzido nos últimos seis anos através de um processo de compostagem, realizado voluntariamente pelos dependentes químicos que passam pela entidade.


Área onde o adubo orgânico produzido a partir de restos de alimentos e galhos de árvore é colocado para secar: projeto gera impactos positivos nos campos ambiental e social (Foto: Rodrigo Zanotto)

Esse foi um projeto levado a Ademir por Hilário, presidente da Trilhos, um dos grandes incentivadores - e inventores - de técnicas que possam reduzir os impactos do lixo na natureza. O projeto de compostagem recebeu certificação do município e reconhecimento, em 2019, por uma banca qualificada do Programa Benchmarking, que premia práticas socioambientais.


No entanto, a partir de agora, Hilário e Edemir partem para uma nova etapa do processo de compostagem, com a adoção de uma técnica de trituração de restos de alimentos e galhos de árvore, que não mais precisará de tanto terreno e mão de obra para dar os resultados esperados.


"Esse projeto de compostagem começou em um terreno próximo à minha casa, e de 2015 para cá fomos aperfeiçoando. Levamos para dentro do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de Santo Antônio de Posse, depois para uma creche em Jaguariúna e, de lá, para a Associação Carisma, onde criamos um produto chamado 'bosta em saco', com fezes de cavalo e compostagem", relembra Argemiro.


Apesar do curioso nome do produto, a venda foi significativa em estabelecimentos de agropecuária e lojas populares em Jaguariúna e região, de acordo com ele. O valor da venda dos sacos de adubo orgânico é revertido para a manutenção da Carisma, que atualmente abriga 44 homens.


Benedito Cesar Ferreira é voluntário do projeto

Um dos assistidos é Benedito Cesar Ferreira, que ajuda no trabalho de compostagem da Carisma. "É uma satisfação, porque posso passar um longo tempo do dia com a cabeça focada nesse trabalho", justifica Ferreira, enquanto faz a peneiração do material.


"A compostagem faz parte do processo de recuperação dos nossos internos.; está entre as nossas atividades terapêuticas. A gente tem relatos de que eles se sentem bem ao realizar um trabalho, ainda que voluntário, que possa contribuir com o meio ambiente", avalia o pastor Edemir. "Quem sabe um dia eles possam trabalhar com essa atividade em outros locais?", imagina.


INOVAÇÃO


Mesmo com apoio de grandes empresas instaladas em Jaguariúna, com o fornecimento de equipamentos e materiais para a execução da compostagem em larga escala, a mão de obra rotativa e voluntária da instituição e os custos de transporte do material orgânico levaram a Trilhos do Jequitibá a pensar em uma nova forma de atuação.


O projeto da compostagem, neste momento, está em fase de retirada do material orgânico do terreno. O local, que possui licença da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) para essa finalidade, abriga cerca de 40 tanques abarrotados de material orgânico pronto para ser separado e ensacado.


"Tudo aquilo que sobra nos refeitórios das empresas, nós coletamos e misturamos com galhos de árvores moídos até a altura de um metro de vinte centímetros", explica Argemiro. Depois de 90 dias, é feita a mistura disso e é necessário aguardar mais 15 ou 20 dias para peneirar e ter o produto final. A instituição chegou a produzir quatro toneladas de composto orgânico por mês.


"É muito triste ver o quanto de alimento é jogado no lixo. Para se ter uma ideia, das diversas empresas que já visitamos, o descarte de alimento chega a ser até meio quilo por pessoa, diariamente, entre preparação e o que resta no prato. No entanto, desse meio quilo aproveitamos somente 40% de material, pois o restante é água", observa Argemiro.


A nova técnica em desenvolvimento por ele consiste em triturar, em uma espécie de liquidificador de grande porte, os restos de alimentos e galhos. O "mingau" obtido com essa trituração passa por uma sequência de filtros até que a água seja separada. O material orgânico decantado no último filtro (semelhante a uma argila) volta a ser misturado com o material mais grosso.


O inventor explica que esse material é então colocado em uma forma e recebe um selante extraído de cactos. Decorridas algumas horas, surgirão "vasos orgânicos", com nutrientes suficientes para ajudar na germinação de uma planta. "A água que restou dessa decantação, eu reaproveito para regar o jardim", esclarece Argemiro.


Biomassa obtida pelo processo adotado também pode ser utilizada para produzir vasos orgânicos

A partir da materialização dessa experiência, a Trilhos do Jequitibá busca apoio de empresas e centros de pesquisa que possam certificar e aprimorar a técnica.


"Nossa intenção é que as próprias empresas possam ter essa máquina para triturar o excedente de alimento e dar um destino ecologicamente correto a esse resíduo. Para uma empresa que produz 10 toneladas de material orgânico, o investimento não ultrapassaria R$ 20 mil para uma máquina com essa finalidade", estima Argemiro.


De acordo com ele, o maquinário portátil poderia ir até às empresas e restaurantes e fazer diariamente o trabalho de trituração desses alimentos. O trabalho não levaria mais do que um dia para ter a biomassa pronta para a produção de vasos orgânicos ou para ensacar como adubo orgânico.


"O projeto de compostagem tem que existir, é muito importante, mas agora as pessoas precisam descobrir novas técnicas de como ganhar dinheiro. Acredito que estamos dando nossa contribuição para essa finalidade, além de estar possibilitando que pessoas em recuperação coloquem a mão na massa e esqueçam as drogas", finaliza.



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