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Foto do escritorTomaz de Aquino

Natal na Fazenda Florianópolis - por Tomaz de Aquino Pires


Memórias do Natal na Fazenda Florianópolis, berço de Jaguariúna - Foto: Acervo Casa da Memória

Chuva e sol, casamento de espanhol! Sol e chuva, casamento de viúva, diziam os Pires lá na fazenda. Nos velhos dezembros a alternância do tempo era breve e constante. Nestes intervalos eu, menino, tomava a cesta de bambu em busca de manga rosa. Corria para fugir do aguaceiro, quantos escorregões e tombos na relva molhada e colocar cada fruta na cesta novamente. Entre relâmpagos e trovoadas alcançava a sede da histórica Florianópolis onde, a salvo, minha mãe e eu degustávamos a preciosa iguaria. Logo raiava o sol, cantavam os pássaros e as cigarras, novamente, nas frondosas fruteiras. Eu, menino, aspirava o inesquecível perfume que caracteriza a Infância e que inunda a vida inteira. Novo dia, meu Pai trazia uma bandeja com leite que tirava no curral e servia na cama para o seu quarteto. Minha mãe regressava, a pé, da Missa das 6 da manhã. Lá Ela recebia o Cristo que fortalece até hoje toda a Família. Os irmãos mais velhos laçavam Bragança, égua dócil, no pasto próximo ao tanque. Preparavam a charrete e vinham à Vila, buscar uma Tia que passava o dia conosco para montar o Presépio. Uns dias antes eles haviam providenciado serragem nas marcenarias do Moacir Picelli, do Étore Tozzi, ou do Rainero Urray, (Nenê Moinheiro). Depois eram selecionados vários tipos de pó de serra que eram coados em peneiras diversas. A serragem representaria, no presépio, as estradas da Galileia, Belém de Judá, Jerusalém... Com a charrete visitavam também as farmácias do Wálter Ferrari, Luís Custódio e do Lazinho Martins. Buscavam nelas a palhinha que nas caixas de madeira alcochoava os vidros de remédios, pois, naquele tempo, o transporte era ferroviário. Passavam pelo Armazém dos tios Ferrari e levavam tubo de tinta em pó “Guarani,” cor verde escura que imitava a vegetação. A palhinha era tingida em casa. Meu Pai, com seu chapéu, guaiaca, botas, lenço, pegava seu animal de montaria, mula formosa, ia para o campo ver o gado, as plantações de café, algodão, tomate, mamão, nos útimos tempos ia para a Olaria do Florianópolis. Estando tudo pronto para a montagem do presépio, a família motivada pela Mãe que contava a história sagrada do Nascimento do Menino Jesus, recebia a Tia para fazer o presépio. Os Pais cuidavam da formação cristã das crianças e desde infantes levavam-nas semanalmente à missa dominical, ao catecismo e em casa davam exemplo de oração, diálogo, compreensão, abnegação, perdão. Por isso Padre Gomes repetia, em seu sotaque baiano que ainda ecoa em nossos ouvidos, o Padre Vieira: “Palavra sem exemplo é tiro sem bala". Neste dia minha mãe preparava almoço para receber a irmã que apreciava costelinha de porco com polenta. Outro irmão era encarregado de caçar angolas nas altas ameixeiras para comer com macarronada feita em casa, no jantar. Presépio pronto, sol poente, jantar servido, os irmãos traziam a tia de volta para casa. Na manhã seguinte estávamos escalados para a colheita de figos e pêssegos verdes para o preparo dos doces natalinos. A “caçarolada italiana” dos Ferrari não faltaria no almoço do Natal. Todos os descendentes continuam com a mesma receita, mas em cada geração, só um ou dois fazem igual. Eu, caçula dos homens, observava a tudo, e de tudo participava, por isso conto, hoje, estas memórias. Em fevereiro de 1955, Papai vendeu a tio Quinzinho Pires a sua parte da Fazenda Florianópolis. Jaguariúna já era Município, recém emancipado. Esse nosso tio foi o 1º Prefeito da nova cidade. Meu Pai veio dedicar-se ao comércio montando um Açougue de carne suína na rua Cel. Amâncio Bueno. Mudamo-nos para o centro da antiga Vila, na Rua Alfredo Engler. Nesta época nasceu a almejada menina, minha irmã caçula, a 5ª filha, esperada por toda família. A partir da mudança da Fazenda Florianópolis novas memórias vieram povoar a alegre e saudosa infância aqui na rua Alfredo Engler, depois na rua Alfredo Bueno. O Natal em cada etapa da vida vai registrando e colorindo a jornada de cada pessoa. É festa de grande alegria porque a humanidade comemora a vinda de Deus Salvador. Feliz Natal!


Tomaz de Aquino Pires, professor e coordenador da Casa da Memória Padre Gomes, de Jaguariúna.

 


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