Jaguariúna completa 70 anos de emancipação e ganha livro com imagens e relatos que marcaram história
Atualizado: 5 de jun.
A imagem da implosão de dois pontilhões ferroviários sobre a Rua Cândido Bueno, a principal via que liga o Centro de Jaguariúna, está na memória e nos relatos dos moradores mais antigos. Foi um fato que ocorreu em 1984, e teve importância não somente para o município expandir seus acessos e construir suas famosas avenidas marginais, mas também abrir caminho para o progresso que batia à porta no início daquela década.
A foto desse dia histórico, assim como quase outros 500 registros, vão ilustrar uma publicação que está em fase final de produção, e que irá retratar, preservar e trazer a memória dos principais acontecimentos e realizações nesses 70 anos de emancipação política-administrativa, comemorado esse ano.
No livro ‘Jaguariúna 70’, além de imagens que mostram o crescimento urbano e industrial, as atividades socioculturais e políticas, serão trazidas lembranças que a nova geração de jaguariunenses nem sequer sabe que existiu. Como por exemplo, que no gramado do Centro Cultural existiu uma réplica da caravela Anunciada, de Pedro Álvares Cabral, inaugurada no ano 2000 em homenagem aos 500 anos de descobrimento do Brasil.
Os registros estarão divididos em décadas, garimpados entre as milhares de imagens arquivadas no acervo da Casa da Memória Padre Gomes, pelo coordenador do local, professor Tomaz de Aquino Pires, pelo jornalista Aluízio Santana e por João Arthur Cavalcanti, responsável pelo projeto gráfico. O apoio técnico na seleção das imagens contou com a fundamental colaboração de Josi Rosana Panini.
“A cidade quem faz são as pessoas, e tivemos uma preocupação de inserir quem ajudou a construir a identidade de Jaguariúna. A ideia do livro é dar a sensação de pertencimento para essas pessoas”, explica Tomaz de Aquino.
Política
Das demais publicações sobre Jaguariúna lançadas nos últimos anos, essa será a primeira a reunir uma cronologia com todos os prefeitos e vereadores eleitos ao logo desses 70 anos, destacam os pesquisadores.
Fato curioso relatado pelo coordenador da Casa da Memória, foi que desde a sua emancipação Jaguariúna foi administrada por apena oito prefeitos. Pedro Silveira Martins Junior e Antonio Mauricio Hossri foram os únicos a realizarem somente um mandato, lembra Aquino.
Seu tio, Joaquim Pires Sobrinho foi o primeiro a ser eleito, em outubro de 1954. Numa época com pouco mais de 5 mil habitantes, a vitória foi apertada, com apenas 23 votos de diferença de Alonso José de Almeida. “Coube ao primeiro prefeito alugar uma casa, comprar os móveis e montar a primeira Prefeitura”, recorda o professor.
Com ruas de terra e pouca infraestrutura, Jaguariúna passou 15 anos sem energia elétrica suficiente para a instalação de indústrias. "Não dava para 20 postes sustentarem lâmpadas, luminárias fluorescentes. Liquidificadores não funcionavam em bairros anexos ao centro. Com a montagem da subestação de energia elétrica tudo mudou", conta o professor.
As dificuldades daquele então Distrito de Paz, pertencente a Mogi Mirim, persistiram até o final da década de 1960, quando na gestão do prefeito Adone Bonetti conseguiu junto ao governo do estado a instalação de uma subestação de energia elétrica.
Também foi na gestão de Bonetti que a água foi encanada, e o município dava os primeiros ajustes para o crescimento.
As fotos dessas conquistas vão retratar no livro a instalação, já na década de 70, dos primeiros núcleos habitacionais, e os primeiros asfaltamentos. Com energia, água e asfalto, as primeiras industrias começaram a se instalar em Jaguariúna no início dos anos 1980, e então começa o período de franco crescimento da cidade.
Vida social
O jornalista Aluízio Santana explica que além do aspecto político, a obra vai retratar fatos sociais que marcaram gerações. Das entrevistas que realizou desde fevereiro desse ano, uma delas vai contar a história da principal discoteca que movimentou a sociedade jaguariunense nos anos 80 e 90, a Ekos.
“Uma imagem histórica dessa discoteca foi o ex-prefeito Laércio Gothardo cantando junto de Cauby Peixoto, em uma apresentação que lotou a casa”, revela Santana, que foi o primeiro jornalista concursado pela Prefeitura.
Outro local que existiu no mesmo período foi o bar Barravento, tocado por Zi Cavalcanti e a esposa Ana Salete.
Ambos, pais de João Arthur Cavalcanti, arte-finalista do projeto. Era um espaço de discussões sobre política, artes e muita música. As fotos retratam o período de efervescência cultural de Jaguariúna.
“A ideia é que com o material utilizado no livro a gente faça uma exposição em frente a Casa da Memória e no Centro Cultural (estação da Maria Fumaça), em forma de painéis. Esse livro é um grande inventário, com fotografias e matérias de jornais, documentando a história desde a emancipação”, conta João Arthur.
Progresso e memória
Com um orçamento atual na casa dos R$ 700 milhões, Jaguariúna ocupa uma posição de destaque na região metropolitana. Mas o desenvolvimento trouxe desafios, como a necessidade de investimento em saneamento e mobilidade.
Além disso, as características de um passado pacato, de ruas tranquilas e imóveis de fachadas históricas, começam a se desfazer diante dos olhos dos historiadores, e a preocupação em preservar, ainda que em livro, dá a esses integrantes do projeto a sensação de dever cumprido.
“Naquela cidade em que houve uma explosão no crescimento, muito do seu patrimônio histórico vai se perdendo. Vai chegando um capital novo, um capitalismo selvagem que vai desconhecendo a história, a memória e a identidade do lugar. E com essa obra e o trabalho da Casa da Memória estamos aqui tentando salvaguardar tudo isso”, expôs Tomaz de Aquino.
“Esse é um livro que eu considero ser muito importante no futuro, estar nas salas de aulas ajudando as crianças a conhecerem sua história. Por isso estamos sendo o mais fiel possível aos fatos, para trazer um material importante para as nossas futuras gerações”, destaca Aluízio.
As fotos antigas que ilustram essa matéria fazem parte do acervo fotográfico da jornalista Elaine Mischiatti e do fotógrafo Ivan Ferrari, cedido à Casa da Memória e que retratam as atividades políticas, culturais e sociais de Jaguariúna nas décadas de 80 e 90.
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