Biblioteca comunitária oferece acolhimento e conhecimento a moradores carentes de Pedreira
Acolhimento, conhecimento, amizade e fantasia. Essas são algumas palavras que definem um projeto inspirador, que há pouco mais de seis meses tem mudado a realidade de crianças em um bairro carente na cidade de Pedreira.
De uma garagem com pouco mais de 10 metros quadrados, uma aconchegante e inclusiva biblioteca comunitária surgiu no coração do Jardim Marajoara, idealizada pela escritora Vanessa Nascimento, de 33 anos.
O espaço Meu Mundo em Páginas se tornou um refúgio não somente para as crianças daquela região, mas também para a própria Vanessa, que auxilia os avós Cida (71) e Zualdo (81) no mesmo endereço há pouco mais de um ano. Foi lá que a estudante de Letras resolveu morar com seu filho de 12 anos, dedicar-se aos estudos e colocar em prática um projeto que a cada dia ganha mais leitores e colaboradores.
Além disso, a leitura e a escrita foram os principais refúgios de Vanessa nos últimos anos, após enfrentar momentos delicados de depressão com o fim do casamento.
Dos livros, dos quais nunca se separou, vieram a inspiração para a biblioteca – à princípio com o intuito de oferecer um espaço para aulas de reforço da criançada – mas agora com projetos que envolvem até mesmo os adultos da região.
“Aqui é um bairro carente, sem muitas atrações, então pensei na questão de viabilizar aulas de reforço na garagem, também como uma forma de eu treinar meus estudos e estar próximo dos meus avós. Mas daí comecei a vislumbrar a possibilidade de ter a minha biblioteca, e colocar em prática projetos que eu sempre sonhei em fazer”, contou.
O COMEÇO
Com a biblioteca municipal em reforma na época, e sem a possibilidade de emprestar livros, Vanessa fez uma publicação nas redes sociais perguntando sobre o que seus amigos achavam da ideia dela abrir uma biblioteca, e se eles a ajudariam doando livros.
“Não passou 10 minutos e uma amiga de Santa Catarina achou a ideia muito legal e pediu a chave PIX. Com o valor que ela doou comprei a faixa onde está escrito o nome da biblioteca. Logo em seguida, de um outro conhecido, com o valor doado comprei uma lousa, para eu poder dar as aulas de reforço. De repente foram chegando doações de livros e foi então que eu pensei: acho que pode dar certo!”, recorda.
Começou com 50 livros, entre infanto-juvenil, romance e fantasia, emprestados da própria coleção de Vanessa. Hoje, já são mais de 400 títulos dividindo estantes e mesas. “Desde o dia em que abri o portão da garagem ele não se fechou. O projeto foi abraçado pela comunidade, e hoje temos 80 cadastrados que emprestam livro na biblioteca”. Os livros podem ficar até 15 dias com a pessoa.
Vanessa relembra que no dia da inauguração, observou que os pais daquelas dez crianças que passaram meio período sentadas em edredons lendo os títulos infantis, não foram atrás de seus filhos para ver o que faziam. E mais: ouviu das crianças relatos preocupantes de uma realidade vivida em seus lares, que deixou transparecer o tamanho da carência afetiva de alguns dos pequeninos frequentadores.
ESPAÇO VIVO E INCLUSIVO
“A ideia é tirar as crianças da rua por que elas ficam à mercê da sociedade. E eu sinto que as crianças pegaram a biblioteca como um refúgio. Estamos em uma região onde a droga está em cada esquina, e dedico a minha vida para trazer as crianças aqui para dentro”.
Durante a tarde em que a reportagem esteve na biblioteca, quatro meninas entraram para conversar com Vanessa; uma delas emprestava um livro pela primeira vez. “Meu objetivo com a biblioteca é que ela seja um espaço vivo”.
E as vivências são intensas naquela movimentada esquina da Rua Otávio Francisco Dorigati. Da garagem saem sons de violão durante o tradicional sarau literário, como também fica em silêncio diante das reflexões do chá literário nas tardes de sábados – “um momento de autocuidado para nós mulheres sentarmos, lermos um livro e relaxar”, define Vanessa.
Para atender os pais ou a criança, Vanessa tem voluntários nas áreas de psicologia, psicopedagogia e também em psicanálise (nesse através de seu pai Ailton Nascimento, um psicanalista que também desenvolvem há anos um projeto de auxílio em praça pública).
Em setembro ela deve publicar seu primeiro livro. O nome? Meu Mundo em Páginas, que reunirá 60 poesias e ilustrações de um garoto de sete anos, frequentador da biblioteca comunitária.
Vanessa faz estágio na prefeitura pela manhã e com isso consegue algum recurso para manter a estrutura do projeto. No entanto, também tira xerox, vende caneca personalizada e livros repetidos, para custear tanto o projeto como a confecção da sua obra.
A estrutura do local também necessita de proteção nas laterais da garagem, pois quando chove se torna um sufoco remover os livros das estantes para não molharem. Por isso, quem quiser colaborar, o PIX da Meu Mundo em Páginas é o: 391.156.628-02.
“A biblioteca abriu portas para mim e eu automaticamente consigo trazer benefícios para as crianças. E é através dos projetos que a gente vai implantando a ideia nas pessoas, proporcionando momentos afetivos e tranquilos”.
Mais detalhes sobre o Meu Mundo em Páginas podem ser acompanhados neste link !
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