A história dos imigrantes italianos e registros fotográficos em Jaguariúna - por Tomaz de Aquino Pires

De um texto fornecido pela Comunitá Italiana de Jaguariúna / Pesquisa de Eliane/2009- na obra “Storia Dimenticata”, Deliso Villa, a Casa da Memória rascunhou alguns dados muito interessantes. Segundo consta, os Italianos partiam do Porto de Gênova e começaram a vir para o Brasil, a partir de 1873. A viagem era muito longa e num navio a vela.
Ocorriam mortes, assim como naufrágios. Sobrava angústia e medo. Acotovelavam-se nos porões escuros e mal cheirosos. Vieram para o Sul e Sudeste do Brasil. Na Itália plantavam e ceifavam o trigo, mas não comiam o pão. Cultivavam a videira, mas não bebiam o vinho. Criavam animais, mas não comiam a carne.
Seu país estava dividido em sete regiões com diferentes dialetos. A comunicação era muito difícil, as estradas eram escassas. A Itália ainda não estava unificada. Em muitos lugares não sabiam o que era o dinheiro, as trocas faziam-se em espécie. O sustento de um trabalhador braçal custava menos que o de um asno.
Os colonos não tinham propriedades e viviam de trabalho escravo. As massas populares não eram consideradas povo. Os comerciantes, os funcionários, os médicos, os advogados constituíam o povo. Se houvesse trinta milhões de habitantes, vinte milhões eram colonos. Como não dispusessem de renda ou de patrimônio, eles não podiam votar. E apenas aqueles que eram abastados podiam ser votados. Desta forma não tinham representantes no Congresso.

Os cargos políticos eram impostos pelo Rei. Doenças como a malária, a pelagra e o cólera dizimavam milhares de pessoas por ano. Crianças com menos de cinco anos representavam metade dos óbitos. Não havia condições de se pagar uma consulta médica. Quase não havia comida. Havia pouca higiene. Havia taxação de imposto até sobre o sal. Comiam polenta.
Nestas circunstâncias, os colonos não eram, no geral, pessoas saudáveis. Eles usavam ainda o arado rudimentar de pregos, usado há 2000 anos antes. As habitações eram paupérrimas, similares às de barrote e de pau-a-pique, outras de pedra, outras com criação de animais em baixo. Mais parecia um país de miseráveis analfabetos.
As terras pertenciam a quem não tinha amor ao campo. No sul da Itália houve revoltas e massacres na década de 1860, os padres foram expulsos ou presos por defenderem os colonos. Eles eram explorados e não tinham vínculo algum com a terra. Famílias sofridas aspiravam à dignidade de possuir alguma terra. Sonhavam em sair do nada. Foi fácil acolherem a Giuseppe Garibaldi, porque esperavam a distribuição das terras. Se invadissem as terras eram enxotados e espancados.

Garibaldi era o líder da Sociedade Nacional, iniciador de um movimento que adotava como fundamento a liberdade e a unificação italiana. Diante dessa situação em que as autoridades não eram sensíveis às necessidades das massas populares criou-se nelas a vontade de emigrar. Era como se os colonos fugissem de um país ingrato que nunca houvesse sido sua verdadeira pátria.
A emigração era incentivada pelo governo, como também, uma solução de sobrevivência para as famílias. Assim é possível entender a saída de sete milhões de italianos no período compreendido entre 1860 e 1920. Deste montante: 1.243.633 para o Brasil. Aqui, em 1850, surgiu a Lei Eusébio de Queirós que proibia o tráfico negreiro. Os negros tornar-se-iam mão de obra gratuita cada vez mais difícil. Aumentava a Campanha Abolicionista.
E, nestas circunstâncias, o Brasil vai interessar-se por trazer levas de italianos para substituir os negros na lavoura cafeeira. “Terre in Brasile per gli italiani/ Venite a construire i vostri sogni com La famiglia”.
Assim os emigrantes deixaram a Itália com o sonho de construir uma vida melhor, enfrentando as dificuldades e perigos da viagem. Com sua saída, permitiram melhor vida na Itália, diminuindo a população e aumentando a quantidade de alimentos aos que ficaram. Aos que saíram, a vida principiou novamente entre animais ferozes, no meio do mato, e mesmo com falta de tudo, ainda enviavam dinheiro do Brasil aos parentes da Itália, com a mensagem: “Venham o quanto antes. A posição é boa, os ares são melhores, é boa a água!”.


Tomaz de Aquino Pires, professor e coordenador da Casa da Memória Padre Gomes, de Jaguariúna.
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